Consonâncias e Dissonâncias

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Consonâncias e Dissonâncias, em música, são parâmetros intuitivos que usamos para medir a agradabilidade da interação entre duas frequências sonoras. Pareceu difícil? Siga o texto, que eu te explico.

Toque Duas Notas Aleatórias

Para explicar a definição de consonâncias e dissonâncias dadas no primeiro parágrafo, proponho um exercício. Se você tiver um instrumento, toque duas notas aleatórias e ouça o som produzido por elas, em seguida, repita o processo com notas diferentes. Quem não possui instrumento, pode fazer em emuladores online como este.

Ao fazer esse exercício, pode-se constatar que alguns pares de notas soam mais agradáveis que outros. Isso acontece porque nossa mente calcula a proporção das frequências sonoras intuitivamente. As notas que possuem frequências proporcionais soam de forma mais agradável, nesse caso, intervalos com frequência proporcional são as consonâncias. No caso de intervalos mais agressivos, as frequências que interagem são desproporcionais.

Pode parecer engraçado, mas, inconscientemente, nossa mente calcula a proporção entre frequências sonoras quase que de forma instantânea. Essa capacidade de relacionar frequências sonoras foi fundamental para a consolidação das notas musicais, bem como as escalas modernas.

Tabela com Consonâncias e Dissonâncias

A partir de experimentos e com a experiência musical aplicada ao longo dos séculos, convencionou-se classificar os intervalos conforme os tópicos abaixo:

  • Consonâncias Perfeitas: Uníssono, 8ªs e 5ªs Justas.
  • As Consonâncias Imperfeitas são 3ª Maior, 3ª Menor, 6ª Maior e 6ª Menor.
  • Dissonâncias Suaves: 2ª Maior e 7ª Menor.
  • As Dissonâncias Fortes são os intervalos de 2ª Menor e 7ª Maior.
  • Dissonâncias Neutras: 4ª Aumentada e 5ª Diminuta.
  • Há ainda intervalos considerados Dissonâncias Condicionais. Tratam-se de intervalos aumentados e diminutos que, fora de contexto, podem parecer consonantes. Por exemplo, consideramos o intervalo de segunda aumentada dissonante, entretanto, se tirarmos esse intervalo de uma música sem conhecer a sua tonalidade, podemos considerá-lo consonante, isso porque se trata de um intervalo enarmônico à terça menor.

Para que fique claro o que é uma dissonância condicional, imagine que uma música esteja sendo executada na tonalidade de Dó, que engloba as seguintes notas:

Notas da escala de Dó

Agora, imagine que em determinado momento, toquemos um intervalo formado pelas notas Dó e Ré#. Apesar de a nota Ré# ser enarmônica a mib, e o intervalo formado parecer uma terça menor, trata-se de uma segunda aumentada com a nota Ré# alheia à escala adotada.

Quarta Justa, um Intervalo Ambíguo

A verdade é que, para muitos, o intervalo de quarta justa é consonante por se tratar da inversão do intervalo de quinta. Esse argumento é potencializado quando constatamos que esse intervalo tem proporção de 4/3, uma proporção simples.

Você deve ter percebido que o intervalo de quarta Justa não foi listado nas classificações acima. Isso porque, apesar de se haver um consenso em classificá-lo como consonante, o intervalo de quarta justa nem sempre soa de forma consonante, isso porque , apesar de possuir razão simples (4/3), esse intervalo está fora da série harmônica.

Fora que a razão entre 4 e 3 resulta em uma dízima periódica, um número racional.

O intervalo de 4ª Justa, portanto, deve ser entendido como consonante em situações dissonantes e dissonante, quando tocada em ambientes dissonantes.

Consonâncias e Dissonâncias na Série Harmônica

No post em que trato da descoberta da série harmônica, explico que as notas mais consonantes são obtidas a partir das frações mais simples de qualquer instrumento de corda. Apresentarei aqui as proporções entre frequências sonoras mais consonantes:

Uníssono

Dentre todos os intervalos possíveis, o mais consonante é o uníssono, que é quando duas notas soam com a mesma frequência.

Consonâncias e Dissonâncias

Oitava Justa

O segundo intervalo mais consonante é a oitava, ou seja, duas notas com o mesmo nome, sendo uma mais grave que outra.

Intervalo de oitava

Perceba que a cada oitava, as frequências das notas dobram. Nesse caso, portanto, temos duas notas cujas frequências estão em proporção 2/1.

Consonâncias e Dissonâncias

Isso acontece porque conseguimos obter um intervalo de oitava justa se compararmos o som de uma corda solta com a vibração obtida pela metade de sua extensão, conforme a figura abaixo.

As frequências com casas decimais acima foram arredondadas para facilitar as contas.

Quinta Justa

O terceiro intervalo mais consonante é o de quinta justa, pois se trata frequência obtida a partir da divisão de uma corda em três partes.

Consonâncias de Dissonâncias Quinta Justa

O cálculo necessário para se obter uma quinta justa baseia-se na condição de que a frequência obtida será inversamente proporcional ao comprimento da corda.

A fórmula para o cálculo das frequências se dá pela seguinte fórmula:

Consonâncias e Dissonâncias

Sintetizando em uma fórmula, teremos:

A frequência do intervalo de quinta é , portanto:

Vale lembrar que, embora o produto obtido nesse cálculo seja um número inteiro, no sistema temperado de afinação, as frequências dentro de cada oitava sofrem pequenas modificações o que torna os intervalos menos precisos. Eu explico esses pormenores nesse post.

Conclusão

Organizando-se as proporções obtidas entre todas as notas de uma escala maior natural em relação à tônica, obteremos:

Consonâncias e Dissonâncias

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