Notas Evitadas – Avoid Notes, Improvise Like a Boss

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Notas Evitadas ou Avoid Notes, em inglês, é um termo usado para descrever notas que, mesmo pertencentes à escala da tonalidade, devem ser evitadas em determinados contextos. Em geral, as notas evitadas chocam-se com a função de um acorde que esteja sendo executado, por exemplo, uma nota que gera tensão em um acorde de função tônica deve ser evitada por razões óbvias, não é aconselhável gerar tensão em um momento de resolução.

Apesar de parecer complicado entender esses conceitos à primeira vista, apresentaremos a seguir uma explicação detalhada de como identificar Notas Evitadas dentro de um arranjo musical.

Escalas e Tonalidades

Conhecer escalas é fundamental para entendermos harmonia funcional, trata-se do fundamento de toda composição, a partir da escala, formamos os campos harmônicos que determinam os acordes de cada tonalidade, conforme podemos ver na figura a seguir:

Escala de Dó Maior

Perceba que a escala de Dó não possui notas sustenidas ou bemóis, essas notas que não fazem parte da escala são, grosso modo, as primeiras notas evitadas dentro da estrutura tonal.

As notas da escala são a referência para as linhas melódicas e os acordes de uma composição. Facilitando o raciocínio, os acordes de um campo harmônico são formados a partir da sobreposição de notas intercaladas da escala, conforme vemos na imagem a seguir:

Campo harmônico e Notas Evitadas

Tocando-se três notas intercaladas consecutivamente a partir de cada grau da escala, formamos tríades, conforme podemos ver a seguir:

Tríades de um campo harmônico maior

Perceba que o campo harmônico acima é exclusivamente formado por tríades, mas há como formar acordes mais complexos, somando-se terças à estrutura.

Extrapolando esse raciocínio, podemos encontrar acordes ainda mais complexos.

A figura acima representa as possibilidades de acordes naturais sobre cada grau do campo harmônico de Dó maior. Em suma, cada grau representado acima pode ser entendido como a epítome de um modo, já que abrange todas as notas da escala a partir de cada grau.

Podemos inclusive formar outros campos harmônicos ao transpor essa série de acordes, com suas respectivas alterações, para outras tonalidades. Vale lembrar, porém, que na prática real, muitas dessas notas devem ser evitadas por entrarem em choque com a função do acorde.

Funções Harmônicas e Notas Evitadas

Conhecendo as escalas e seus respectivos campos harmônicos, passemos a estudar as funções relativas a cada grau do campo harmônico.

Tonalidade e funções Harmônicas

Relembrando as funções harmônicas:

  • Tônica: Representa a sensação de repouso e equilíbrio. Geralmente tocamos os acordes com função tônica para determinar o encerramento de um trecho musical.
  • Subdominante: Representa a sensação de afastamento do centro tonal, porém não tão instável quanto a função dominante.
  • Dominante: Representa a sensação de urgência e de tensão, geralmente os acordes dominantes são o ponto de maior tensão e, consequentemente, encaminham a harmonia para a tônica.

As notas acrescentadas a cada acorde geram novas sensações, ampliando as possibilidades sonoras e enriquecendo a harmonia. Porém, é necessário que se entenda que as notas acrescentadas modificam a interação entre notas já existente dentro do acorde.

Observe o acorde de C7M, por exemplo, encarando-o como um acorde de função tônica, gerado no primeiro grau do campo harmônico de Dó:

Observe os intervalos formados entre as notas do acorde de C7M, bem como suas respectivas inversões.

Observando os intervalos formados entre as notas, perceba que os únicos intervalos dissonantes são os de sétima maior e sua relativa, segunda menor. O intervalo de sétima maior é uma dissonância suave, ou seja, não tem força dissonante suficiente para mudar a sonoridade tônica do acorde. No entanto, o intervalo de segunda menor deve ser evitado por ser uma dissonância forte.

Notas Evitadas em C7M – Primeiro Grau do Campo Harmônico de C Maior

Sobrepondo intervalos de terça sobre o acorde, obtemos:

Notas Evitadas no acorde de C7M

Agora, perceba que a nota Fá rompe com a sensação de repouso do acorde de C7M, isso porque está a um trítono de distância com a nota Si, e uma segunda menor em relação a nota Mi, dois intervalos dissonantes. A segunda menor com uma dissonância forte e um trítono, que é a essência de um acorde dominante. Esses dois intervalos distanciam o acorde da função de repouso, portanto, a nota Fá é evitada em um acorde de primeiro grau.

Como solução para esse problema, aconselhamos o uso de uma quarta aumentada ao invés da quarta justa representada pela nota Fá. Essa solução, no entanto, tem suas limitações, já que a nota Fá# está à distância de uma quarta aumentada em relação à tônica, mesmo assim, é preferível o uso dessa alteração.

Notas Evitadas em Dm7 – Segundo Grau do Campo Harmônico de C Maior

O segundo grau do campo harmônico maior tem função subdominante, ou seja, é um grau que se caracteriza por dar a sensação de afastamento da tônica de forma suave, já que a função subdominante do segundo grau é fraca.

Formando o acorde de Dm7, segundo grau do campo harmônico de C:

Observe os intervalos formados entre as notas desse acorde:

Agora, sobrepondo terças à essa estrutura:

A nota Si é problemática no acorde de Dm7, visto que ela gera um intervalo de segunda menor com a nota Dó e um trítono em relação a Fá. Dessa forma, a nota Si gera a sensação de dominância, não aconselhável para um acorde de função subdominante.

Notas Evitadas em Em7 – Terceiro grau do Campo Harmônico de C Maior

No terceiro grau de um campo harmônico maior, encontramos uma função Tônica fraca. O acorde de Em7 é bastante semelhante ao acorde de C7M(9) que tem função Tônica forte no campo harmônico de C, essa semelhança também reflete-se na sensação sonora que este acorde evoca.

Montando esse acorde no teclado, podemos observar a seguinte sequência de notas.

Analisando os intervalos formados por essas notas, o único intervalo dissonante é a sétima menor, formada entre a nota Mi e a nota Ré. Esse intervalo, entretanto, é uma dissonância suave, não tendo força para modificar a função do acorde.

Acrescentando intervalos de terça à estrutura do acorde, temos:

Perceba que a nota Fá forma um intervalo de segunda menor, que é uma dissonância forte, e forma trítono com a nota Si; e a nota Dó também forma intervalo de semitom em relação a Si. Dessa forma, há uma formação de tensão que compromete a estabilidade do acorde.

Notas Evitadas em F7M – Quarto grau do Campo Harmônico de C Maior

O acorde do IV grau tem função subdominante forte, ou seja, ele passa a sensação de afastamento do centro tonal. A tétrade característica do quarto grau é semelhante à tétrade da Tônica, um acorde maior com sétima maior.

Observe agora os intervalos que se formam entre as notas desse acorde:

perceba que, da mesma forma que o acorde do primeiro grau, os únicos intervalos com dissonâncias fortes são os de sétima maior e sua respectiva relativa, segunda menor. Entretanto, as sobreposições de terças nessa tétrade definem características únicas desse grau.

Perceba que a nota Si traz problemas à sonoridade subdominante, isso porque a nota Si gera um intervalo de segunda menor em relação à Dó e um trítono em relação à Fundamental.

Notas Evitadas em G7 – Quinto grau do Campo Harmônico de C Maior

Finalmente chegamos ao grau que se destaca por conduzir a movimentação harmônica da música. O quinto grau, também chamado de dominante, é um grau harmônico em que há entre as notas um trítono entre a sétima e a terça do acorde. Esse trítono pede que as notas desloquem-se um semitom, cada, em movimento invertido. Esse movimento é chamado de V7 I.

Observe os intervalos entre notas no acorde de G7:

Para entender o movimento das notas de um trítono, observe a sequência de imagens a seguir:

Sobrepondo terças sobre o acorde G7, temos:

Dó é uma nota evitada no acorde de G7 porque forma uma segunda menor em relação à terça do acorde, sem contar que torna o movimento ascendente da nota Si inócuo.

Notas Evitadas em Am7 – Sexto grau do Campo Harmônico de C Maior

O sexto grau do campo harmônico gera um acorde relativo à ao acorde do primeiro grau. Sendo assim, também possui função tônica fraca.

Analisando os intervalos formados entre essas notas, temos:

Assim sendo, sobrepondo intervalos de terça em relação a Am7, temos:

Perceba que a nota Fá é evitada no sexto grau, isso porque a nota Fá gera um trítono em relação à nota Si.

Notas Evitadas em Bm7(b5) – Sétimo grau do Campo Harmônico de C Maior

Por fim, o acorde meio diminuto gerado pelo sétimo grau do campo harmônico maior tem função dominante.

Observando os intervalos internos do acorde Bm7(b5):

Sobrepondo intervalos de terças à tétrade:

A nota Dó, portanto, é evitada no acorde de Bm7(b5).

Analisando as Notas Evitadas de Cada Grau

Resumindo todas as informações colocadas até aqui, temos:

Sendo assim, de acordo com as regras das Notas Evitadas, os acordes de um campo harmônico possuem as seguintes possibilidades.

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