Música na História – Os Registros mais Antigos de Música no Mundo

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A história é um campo de estudo que visa entender as relações humanas e eventos de grande impacto a partir da invenção da escrita. Entretanto, antes mesmo dos primeiros registros de escrita, já produzíamos música. Neste post, portanto, discorreremos sobre os registros arqueológicos mais antigos que montam nossa relação com a música.

Música e a Formação do Homo Sapiens

Ao contrário do que se possa intuir, a criação da música não foi uma elaboração teórica de estudiosos com instrumentos e ábacos em mãos. Ela é, antes de tudo, um elemento fundamental da nossa formação como espécie. Sendo, dessa forma, o resultado de milênios de experimentações que tinham como referência as sensações geradas a partir de estímulos sonoros. Não somente isso. Acredita-se que o uso da música pelos nossos ancestrais está ligada ao desenvolvimento da comunicação e fala, bem como um meio de socialização entre grupos humanos, possibilitando que mais tarde tornássemos seres com estrutura social tão complexa.

Pensando a partir desse axioma, o estudo da música é, antes de tudo, a investigação dos afetos humanos a partir de estímulos sonoros.

O que torna as manifestações musicais tão envolventes é a maneira como nossa mente reage aos sons musicais. O cerne da música, portanto, encontra-se na capacidade humana de encontrar padrões nos fenômenos da natureza, no pensamento subjetivo, na nossa capacidade de perceber o tempo e, por fim, em componentes hormonais.

A verdade é que toda mágica acontece no nosso cérebro. Desde a percepção dos sons até o processamento mental usado para se identificar padrões sonoros racionalizáveis. A música, dessa forma, é, mais que um hobby ou profissão, um aspecto da nossa psique. Por conseguinte, as artes musicais funcionam como um catalisador dos sentimentos mais diversos como paz, alegria, tristeza e euforia. Sendo todas invocadas a partir de padrões melódicos e harmônicos.

Todo nosso cérebro é estimulado quando ouvimos músicas, principalmente as áreas do responsáveis pelo processamento de movimento, audição e sistema límbico. Consequentemente, é liberada dopamina na corrente sanguínea, que acarreta nas sensações de prazer e bem estar.

Os Instrumentos Musicais Mais Antigos

Os registros arqueológicos mais antigos que comprovam a relação da raça humana com a música possuem entre 42 a 43 mil anos. A imagem abaixo é de uma flauta confeccionada com o fêmur de um urso das cavernas, considerado o artefato mais antigo mais antigo descoberto até hoje.

Música na História - Instrumentos pré históricos
Fonte: https://crono.news/Y:2020/M:05/D:12/h:11/m:50/s:38/musica-preistorica-litofoni-neanderthal-flauto-di-divje-babe/

Essa descoberta foi feita na caverna de Divje Babe, na Eslovênia, em 1995.

Há ainda outras descobertas de flautas confeccionadas com ossos de mamute e aves encontradas em outras investigações arqueológicas realizadas no sul da Alemanha. A imagem abaixo mostra duas flautas talhadas em marfim de mamute. Foi encontrada no sítio arqueológico de Geissenklösterle, localizado ao sul da Alemanha.

Música na história 2 - Flautas pré históricas

Essas descobertas são provas de que a nossa relação com os sons e a música nos acompanha desde muito tempo. Considerando a sofisticação que havia na construção desse objetos, podemos intuir que a prática musical dos povos pré históricos eram bem anteriores, podemos inclusive concluir que antes da invenção das flautas, os povos ancestrais já cultivavam outras formas dce expressão artística que como pinturas rupestres, danças, expressões vocais e percussivas.

Apesar dessa descoberta, não temos como saber com exatidão como era a música praticada na pré história porque ainda não havia sido criado nenhum sistema de escrita. Imagina-se que a música pré histórica era usada em rituais religiosos, sendo praticada de forma livre durante os rituais. 

Música na História

Sabemos que a partir da invenção da escrita tratamos todos os artefatos arqueológicos como históricos, dessa forma, não podemos classificar os primeiros registros de escrita musical como pré históricos. A partir daqui, estaremos apresentando a música na história.

Os Registros Mais Antigos de Escrita Musical 

Ao longo dos milênios, criamos sistemas musicais diversos que evoluíram até os atuais dos quais o mais amplamente difundido é a Música tonal com afinação temperada. Antes, porém, é interessante discorrer sobre registros arqueológicos que indicam a prática musical humana desde a pré história.

Muito embora haja registros arqueológicos de instrumentos musicais que datam de 43.000 anos, os primeiros registros de notação musical são bem mais recentes. Sendo feitos em sítios arqueológicos no oriente médio, mais precisamente nas regiões da Síria e do Iraque, que pertenciam à antiga mesopotâmia.

Tabuleta Encontradas na Síria

Música na História - Tabuleta com inscrições musicais encontrada na Síria.
Foto: Leila Molana-Allen
Fonte: https://www.bbc.com/travel/article/20180424-did-syria-create-the-worlds-first-song

Na década de 50 do século passado, um grupo de arqueólogos encontraram em Ugarit, na Síria, 29 tabuletas de argila com inscrições cuneiformes, típicas da região e época em que foram produzidas. O problema encontrado pelos pesquisadores que estudavam esses artefatos é que a maioria das peças estava quebrada em pequenos pedaços. Isso impossibilitava a reconstituição das tabuletas e tradução dos registros cunhados nelas.

Por sorte, uma dessas tabuletas estava partida em pedaços maiores que permitiu o vislumbre do que estaria escrito nelas. O que se notou é que além das inscrições textuais, abaixo, porém, observou-se o que parecem ser indicações musicais.

O grande problema para os estudos dessas peças, para além do estado delas, é o fato de elas estarem escritas em Ugarit, uma língua morta falada no nordeste do Cálcaso. Por ser uma linguagem muito rara e por ser um fragmento pequeno, há muita dificuldade no trabalho de tradução deste artefato.

Escrita musical Babilônica

Há ainda registros de notação musical feitos pelos Babilônicos, provavelmente da cidade de Larsa, e que datam de aproximadamente de 2000 a 1700 a.C., o mais antigo encontrado é de uma tábua de argila com escrita cuneiforme com duas colunas duplas e sete linhas regidas com números babilônicos com títulos, “Entonação” e “Encantamento” respectivamente. 

Fonte: https://www.schoyencollection.com/music-notation/old-babylonia-cuneiform-notation/oldest-known-music-notation-ms-5105

Registros Arqueológicos da Produção Musical no Antigo Egito

Outra grande civilização da antiguidade que deixou registros de produção musical, foi a sociedade egípcia, tendo, inclusive, muito mais registros arqueológicos nesse sentido que qualquer civilização da antiguidade. A prática musical egípcia era associada ao exercício de poder, homenagens, em rituais religiosos ou seculares.

As peças musicais eram compostas para vários instrumentos, desde os simples Sistros aos mais elaborados como harpas e flautas.

Sistro
Na imagem à esquerda há a representação de um sistro, um instrumento percussivo, enquanto à direita há uma foto de um sistro real.
Músicos e dançarinos, do túmulo de Nebamun

Notação Musical Grega

Embora haja registros de escrita musical tão antigos, a linguagem musical moderna surgiu apenas a partir dos experimentos gregos.

Outra peça arqueológica importante que data de aproximadamente 200 a.C. é uma peça de papiro recuperada da cartonagem de uma múmia com um trecho do Coro Stasimon de Orestes.

Fonte: https://www.wdl.org/pt/item/4309/

Esse texto grego foi escrito em Hermópolis, no Egito, e contém sete linhas do primeiro refrão de Orestes juntamente com símbolos vocais e instrumentais escritos acima da letra da música. Muitos dos aspectos da notação musical grega ainda são um mistério, esse documento permitiu que estudiosos de notação pudessem reconstruir o refrão escrito.

Hinos de Delfos

Ainda que o Coro de Orestes, que é o registro de escrita musical grega mais antiga descoberta até hoje, há um artefato arqueológico que fornece informações mais claras sobre a notação musical grega, isso porque possui seus signos gravados em pedra que compõem uma peça musical completa com letra e melodia.

A imagem acima mostra o Epitáfio de Seikilos, Uma pedra funerária grafada com o texto e a melodia de uma peça musical completa. A peça data do século I d.C..

Traduzindo o texto para o nosso idioma, temos os seguintes versos:

Eu sou um túmulo, um ícone. 

Seikilos me pôs aqui como um símbolo eterno da lembrança imortal.

O nosso sistema musical deriva-se dos experimentos gregos. Isso porque a cultura grega influenciou fortemente o império romano e, com a queda do império que marca a idade média, a prática musical e ensino ficou sob o controle da igreja católica, que desenvolveu a escrita musical que deu origem à notação moderna. Mas isso é tema para outro post.

2 Comentários


  1. Sou leigo em música, mas posso dizer que aprendi muito neste estudo, parabéns pela sua iniciativa.

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