Música e os Jogos – Como Aprender mais Rápido

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Como a Música e os Jogos eletrônicos têm em comum? É possível aprender um instrumento mais rápido entendendo como funcionam as dinâmicas dos jogos eletrônicos? Neste post trarei respostas sobre essas questões.

Este post é uma continuação dos temas tratados em um texto escrito anteriormente, no entanto não se faz necessário lê-lo para compreender as coisas que serão escritas aqui.

No post passado, discorremos sobre os primeiros passos que todo iniciante deve adotar para que possa ter bom aproveitamento nos estudos do instrumento. Neste texto, portanto, traremos algumas estratégias para o seu cronograma de estudos.

Há inúmeras maneiras de se alcançar proficiência musical

Da mesma forma que há inúmeros gêneros musicais, há uma infinidade de maneiras de se alcançar expertise musical.

Ao contrário do que se possa intuir, um arranjo musical não é apenas o que se pode ouvir por leigos, mas sim uma estrutura complexa composta por vários elementos que se relacionam de forma interdependente, sendo combinados em função de uma passagem de tempo.

Entendendo que cada peça usada na construção de um arranjo musical demanda certo nível de expertise, podemos concluir que há inúmeras maneiras de se desenvolver expertise musical.

Podemos comparar a evolução de um estudante de música à progressão desenhada por game designers na construção da chamada árvore de habilidades.

Árvore de Habilidades

Usamos a figura da árvore para descrever o processo de evolução que pode ser desenvolvido de forma ramificada. Sabemos que o tronco de uma árvore emerge do solo a partir das raízes, e a partir de certa altura, ramifica-se em galhos cada vez mais finos até suas extremidades.

Pensando no progresso de alunos de música em diferentes instrumentos, observamos na prática que, na medida em que se aprende os conceitos mais elementares de música, esses estudantes tendem a se especializar nas perícias mais necessárias para o instrumento que tocam.

Instrumentistas de sopro, por exemplo, costumam ser excelentes em solfejos, bateristas tendem a ter mais coordenação de movimento e controle da pulsação, pianistas populares muitas vezes possuem maior senso de harmonia, etc.

Logicamente, o ideal seria desenvolver todas essas habilidades de forma equilibrada, para isso, primeiramente precesolhaisamos mapeá-las.

Música e os Jogos na Construção de Árvores de Habilidades

Em jogos de aventura e RPG, é comum o uso de um elemento de game design chamado de Árvore de habilidades que são possibilidades de evolução que o personagem jogável possui. A cada nível que este personagem sobe, o jogador tem a possibilidade de escolher quais atributos quer evoluir nele. Essa escolha, entretanto, exclui outras possibilidades de evolução, criando assim possibilidades diferentes de jogabilidade.

Da mesma forma que os jogos que possuem árvores de habilidades permitem maiores possibilidades de adaptação do personagem às preferências de cada jogador, o estudo da música permite que possamos evoluir alguns aspectos em detrimento de outros segundo nossa preferência. O que muda é que em um jogo todos os atributos estão dados desde o início da jogatina, ao passo que na música é necessário deixar claro quais são as possibilidades de estudo possíveis.

Na figura abaixo há alguns aspectos que trabalharemos neste post.

Semelhança entre Música e os jogos

Atributos no Estudo de Música

A estrutura musical básica é composta por três elementos que são:

Elementos da música e os jogos

Desses elementos, o mais básico na construção de qualquer arranjo musical é o ritmo.

Ritmo

Tudo que se refere à contagem de tempo em um arranjo musical pode ser considerado ritmo. As bases rítmicas de qualquer composição aos moldes ocidentais é determinada pela pulsação adotada.

Pulsação é a marcação de tempo em intervalos de mesma duração. Um exemplo de pulsação é visto nos ponteiros que marcam os segundos em um relógio analógico. A cada segundo tempos uma marcação sonora e um movimento com velocidade constante.

O estudo de ritmo deve ser o primeiro foco para estudantes iniciantes, visto que todos os outros elementos se relacionam diretamente com a rítmica. Mas deve se ter em mente que a prática rítmica não se concentra unicamente no estudo do instrumento. Ritmo é o estudo das proporções sonoras, sendo assim, podemos praticar ritmo cotidianamente com batucadas e bater dos pés durante a execução de uma música ou mesmo ao som de um metrônomo.

Uma boa fonte de pesquisa para familiarização dos estudos em rítmica é o método Dalcroze de Eurorítmica.

Melodia

Os sons musicais podem ter ou não frequências distinguíveis, sendo que os sons sem frequência distinguível em geral são sons percussivos, ao passo que os sons com frequência clara são as notas musicais.

Há sete notas musicais que se repetem ao longo de todo instrumento melódico e harmônico. Categorizamos elas em ordem de altura com os nomes:

As sete notas musicais da escala de Dó
música e os jogos

Essas notas se repetem em ciclos infinitos em que cada ciclo soa mais grave ou mais aguda a depender da localização da nota em relação ao instrumento.

Melodia é a arte de combinar notas musicais de forma subsequente, ou seja, uma de cada vez, a fim de criar frases cantáveis. Grosso modo, tudo que pode ser cantado, solfejado ou assobiado é melodia.

Harmonia

Quando há relações entre notas de forma simultânea, estamos falando de harmonia.

Harmonia, portanto, é a arte de se combinar notas simultaneamente. Quando praticamos acordes ou contraponto, estamos desenvolvendo nossa capacidade harmônica.

Percepção Musical

Todos os elementos previamente citados são estruturas que compõem os arranjos musicais modernos, entretanto, para usá-los de forma consciente e criativa é necessário desenvolver percepção musical. Essa habilidade diz respeito à capacidade de encontrar e reproduzir padrões sonoros como levadas rítmicas, intervalos entre notas, funções harmônicas e etc.

O primeiro aspecto de percepção musical a ser observado por estudantes iniciantes é a percepção rítmica, porque, como o ritmo é o elemento musical mais fundamental, todas as estruturas musicais estão estruturadas em função da rítmica. Dessa forma, desenvolver percepção rítmica é o primeiro passo para treinar a escuta musical.

Traremos a seguir algumas dicas para se desenvolver a percepção rítmica de forma gradativa.

1º Passo – Encontrar a Pulsação nas Músicas

Pode parecer simples, mas a percepção dos pulsos em uma música é a base para se desenvolver o ouvido musical. Dessa forma, sempre que estiver ouvindo alguma música, certifique-se de identificar a pulsação.

Fazer movimentos corporais pode auxiliar nesse processo. Estalar os dedos, bater palmas ou os pés são alguns exemplos de como usar os movimentos corporais a fim de melhorar nossa percepção da pulsação e aumentar nossa precisão rítmica.

O uso de Movimentos corporais para auxiliar no desenvolvimento da rítmica é a base de sistemas de ensino musical como o Método Dalcroze de Euritmia.

2º Passo – Identificar os Compassos em Músicas

A partir do momento em que se tem o domínio mínimo da percepção da pulsação musical, estabeleceremos como meta a percepção dos compassos adotados nos arranjos musicais.

Compassos são agrupamentos de pulsos delimitados por pulsações fortes seguidas por pulsações fracas. Em suma, os pulsos fortes são contados como o tempo 1, seguido dos demais.

Dessa forma, há duas classes de compassos, a saber:

a) Compassos Simples:

Compassos simples são as contagens mais elementares de tempos em música. Trata-se dos movimentos mais orgânicos e primitivos.

Identificar compassos simples é relativamente fácil, pois as pulsações simples costumam subdividir-se em frações pares.

Os compassos simples mais comuns são:

  • Compassos Binários Simples: Caracterizados pela marcação de um pulso forte seguido de um pulso fraco.
Música e os jogos

Os Compassos binários podem ser ouvidos em diversos gêneros musicais brasileiros como o samba e o maracatú.

  • Compassos Ternários Simples: É uma contagem de tempo ímpar, isso faz com que músicas em compassos ternários tenham um movimento mais trotado.
Música e os jogos

Podemos identificar compassos ternários nos gêneros musicais sulistas como o Chamamé e a Polca, por exemplo.

  • Compassos Quaternários: Compassos formados por quatro pulsos, sendo um forte e três fracos.

Esse tipo de compasso é o mais comumente encontrado nas músicas pop.

b) Compassos Compostos:

A diferença entre a contagem nos compassos compostos e nos simples é a subdivisão dos tempos dentro de cada pulso. Enquanto, nos compassos simples, a subdivisão natural de cada pulso é par, nos compassos compostos, essa subdivisão é feita em três partes.

Os compassos compostos também podem ser binários, ternários ou quaternários, sendo mais usado o binário composto.

Alguns exemplos de músicas em compassos compostos poder ser percebidos na icônica trilha sonora de Piratas do Caribe, na Música tema do jogo Skyrim e na Valsa Danúbio Azul de Johann Strauss (Filho).

3º Passo Encontrar as notas da Melodia

A partir do momento em que se identifica os atributos rítmicos de uma composição, passemos a analisar as notas que constroem a melodia. Nesse caso, entretanto, devemos usar tentativa e erro e encontrar as notas pelo ouvido, tentando localizá-las a partir da altura das notas da melodia em relação às notas que estiverem sendo “chutadas”.

Escala e Campo Harmônico

A partir do momento em que identificamos as notas que compõem toda ou parte da melodia, devemos tentar identificar uma escala em que essas notas possam estar. Toda melodia tonal parte necessariamente de uma escala.

Como já tratamos em um post anterior, toda escala diatônica pode gerar um campo harmônico, ou seja, as notas usadas na escala também formam os acordes do arranjo.

A partir disso, o estudo do ouvido musical deve ser direcionado à percepção das relações sonoras entre acordes, sendo assim, recomenda-se o estudo das cadências musicais.

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