Intervalos Musicais – Guia Definitivo

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Intervalos são as distâncias calculadas entre duas notas musicais. Conhecê-los é fundamental para entender formação de acordes, construção de escalas, consequentemente seus respectivos campos harmônicos e acidentes. Isso porque todas as estruturas de um arranjo musical que lidam com notas musicais, naturalmente relacionam as notas de acordo com suas respectivas proporções de altura.

Enarmonia

A primeira coisa que deve ficar clara quando falamos de distâncias intervalares é o conceito de enarmonia.

Enarmonia é um termo que se refere a possibilidade de uma frequência sonora ser interpretada como diferentes notas musicais. Por exemplo, uma nota Fá# pode ser interpretada como um Sol bemol a depender do contexto harmônico, indo além, podemos dizer que essa mesma nota pode ser interpretada como um Mi dobrado sustenido.

Perceba como uma mesma tecla em um teclado pode ter nomes diversos:

Perceba como é variável as possibilidades de se nomear uma nota musical mesmo em instrumentos com notas fixas.

O conceito de Enarmonia aqui indica que, em teoria, não se pode haver intervalo entre notas de mesmo nome em posições diferentes. Explico, quando se mede a distância de Dó ao mesmo Dó, temos um uníssono, duas vozes executando a mesma nota. Porém, entre Dó e Dó# não podemos aferir distância intervalar, pois, nesse caso, as duas notas indicariam Dó em duas posições diferentes, o que dá a entender que a nota em questão esteja em duas escalas diferentes simultaneamente, gerando uma situação anômala nas estruturas convencionais de arranjo musical. Nas harmonias tradicionais, a nota Dó# assumiria o nome de Réb ou a nota Dó assumiria o nome de Sí# a depender da escala em que esse intervalo estiver inserido.

Intervalo entre Dó e Dó sustenido
Não há intervalo
Intervalo entre Si# e Dó#
Há intervalo
Intervalo entre Dó e Réb No teclado
Há intervalo

Calculando Intervalos com Enarmonia

Sabendo que o nome dado à nota faz diferença quando se calcula intervalos, uma forma simples de encontrar os intervalos entre duas notas é contá-las em ordem crescente. Se calcularmos a distância entre a nota Ré e Si, por exemplo, teremos uma distância intervalar de sexta, pois se contarmos cada nota, teremos.

Usar apenas a enarmonia para medir a distância entre duas notas não é um método tão preciso, pois os intervalos podem ser classificados em maiores, menores, justos, aumentados e diminutos. Apesar de saber com base apenas nas notas que entre Ré e Si há uma distância de Sexta, não temos informações suficientes para fazer uma classificação desse intervalo. Para tal, precisamos de um sistema de medição mais preciso.

Unidades de Medida para se Calcular Intervalos

Sempre quando falamos em algum tipo de medição, é necessário estabelecer uma unidade de medida padrão que irá fornecer uniformidade métrica. Usamos os minutos e segundos para medir a passagem de tempo; centímetros, milímetros e metros para estabelecer metragem. Quando se trata da distância de dois sons, entretanto, temos como unidade de medida os tons e semitons.

Semitons

Semitons são a menor distância intervalar possível em instrumentos temperados. Em suma, instrumentos temperados são os que possuem notas fixas como o teclado, piano, acordeon, instrumentos de corda com traste, entre outros.

Um exemplo de semitom é a distância entre Dó e Réb.

Tom

Tom é a distância que engloba dois semitons, se calcularmos a distância de um tom ascendente em relação a Dó, teremos a nota Ré.

Distância entre a nota Dó e a nota Ré

A partir dessas duas distâncias foram estabelecidas quantidade de tons e semitons equivalentes a cada intervalo, conforme os tópicos a seguir:

Apresentação dos intervalos

Intervalos de 2ª menor

Intervalos de segunda menor

Uma segunda menor é equivalente à distância um semitom, ou seja, a menor distância entre duas notas em instrumentos temperados.

Intervalos de 2ª Maior

Distância entre a nota Dó e a nota Ré intervalos de segunda maior

A segunda maior possui distância equivalente a um tom entre duas notas, portanto, duas vezes mais distante que o intervalo de segunda menor.

Intervalos de 3ª menor

Notas Dó e Mi bemol destacada em um teclado gerando intervalos de terça menor

Temos um intervalo de terça menor quando entre duas notas há a distância de um tom e um semitom.

Intervalos de 3ª maior

Notas Dó e Mib Destacadas no Teclado gerando intervalos de terça maior

Os Intervalos de terça maior são compostos pela distância de dois tons entre duas notas.

Intervalos de 4ª Justa

Notas Dó e Fá destacadas no teclado gerando intervalos de quarta Justa

Um intervalo de quarta justa é composto pela distância de dois tons e um semitom entre duas notas, vale lembrar que os intervalos justos não possuem variação maior e menor, pois são consonâncias perfeitas, distâncias que soam bem aos ouvidos.

Intervalos de 5ª Justa

Notas Dó e Sol destacadas no Teclado.

Os Intervalos de quinta justa são compostos pela distância de três tons e um semitom entre duas notas.

Intervalos de 6ª Menor

Notas Dó e Láb Destacadas no Teclado gerando intervalo de sexta menor

Uma sexta menor é a distância de quatro tons entre duas notas.

Intervalos de 6ª Maior

Notas Dó e Lá destacadas no teclado

Um intervalo de sexta maior compreende a distância de quatro tons e um semitom entre duas notas.

Intervalos de 7ª Menor

Notas Dó e Si bemol destacas no teclado gerando um intervalo de Sétima Menor

Um intervalo de sétima menor é composto pela distância de cinco tons entre duas notas.

Quando citamos os intervalos de sétima em uma análise musical, é importante esclarecer que, quando se omite a classificação, presume-se se tratar de uma sétima menor, pois em harmonia, a sétima menor tem uma função muito característica na estrutura tonal.

Intervalos de 7ª Maior

Notas Dó e Si destacadas no teclado gerando intervalos de sétima maior

A sétima maior é composta pela distância de cinco tons e um semitom entre duas notas. Esse tipo de intervalo é comumente encontrado em acordes de repouso ou em acordes de função subdominante.

Intervalos de 8ª Justa

Distância entre duas notas Dó no teclado é de uma oitava justa

Finalmente temos o intervalo de oitava justa que compreende a distância entre duas notas homônimas em tessituras diferentes, representada pela distância de seis tons entre duas notas.

Intervalos aumentados e diminutos

Intervalos aumentados e diminutos estendem as distâncias convencionais entre duas notas. Um intervalo aumentado, por exemplo, é um semitom mais distante que a distância do mesmo intervalo maior ou justo.

Quando se fala em intervalos diminutos, eles são um semitom mais curtos em relação aos respectivos intervalos menores ou justos.

Intervalos Compostos

Chamamos de intervalos compostos, distâncias intervalares superiores à oitava. Elas tendem a ter a mesma classificação do intervalo simples correspondente. Se pegarmos como exemplo o intervalo de 9ª, saberemos que se trata de uma 2ª composta, dessa forma, uma nona maior será correspondente à segunda maior uma oitava acima, da mesma forma que um intervalo de nona menor corresponderá ao intervalo de segunda menor.

Uma maneira simples de associar intervalos simples e compostos pode ser aferido na imagem a seguir:

Tabela com intervalos simples e compostos
Os intervalos compostos em cores mais claras indicam que a nomenclatura composta não é usada, isso porque os intervalos de terça, quinta e sétima possuem funções tonais muito características.
Essa mesma lógica funciona em intervalos aumentados e diminutos.

Consonâncias e Dissonâncias

Dissonâncias e Consonâncias são parâmetros usados para definir o quão agradável é o som aos ouvidos, há uma graduação entre os dois pólos, ou seja, existe uma escala de sons mais ou menos consonantes.

Consonância

Intervalos consonantes soam de forma agradável, isso acontece porque intervalos consonantes possuem razão simples entre suas respectivas frequências sonoras. Os intervalos consonantes possuem duas subclassificações.

Consonâncias Perfeitas

Consonâncias perfeitas são os intervalos mais harmônicos que existem, em suma são todos os intervalos justos, em ordem de consonância, a oitava, segundo intervalo mais consonante depois do uníssono, quinta e quarta, que pode ser considerada uma quinta invertida.

Observações sobre a quarta justa

O intervalo de quarta justa, entretanto, a depender do contexto harmônico, não soa consonante. Isso acontece porque o intervalo de quarta, apesar de possuir razão simples entre duas notas, é sintético. Cada nota musical soa juntamente com sua respectiva série harmônica. Essa série de frequências secundárias ditam quais frequências soam de forma natural à nota tocada. Não há na série harmônica a quarta justa, fazendo com que esse intervalo soe harmônico em contextos de tensão e soem tensos em contextos de consonância.

Consonâncias Imperfeitas

As consonâncias imperfeitas são as distâncias de terça maior, terça menor, sexta maior e sexta menor, simples e compostos.

Importante destacar aqui que da mesma forma que o intervalo de quinta justa e quarta justa são inversões entre si, a sexta menor é uma inversão sobre a terça maior, e a sexta maior também é uma inversão da terça menor.

Dissonâncias

Dissonâncias soam tensas ao ouvido. Em suma, todos os outros intervalos são dissonantes, porém, assim como as consonâncias, as dissonâncias possuem subclassificações, a saber:

Dissonâncias Suaves

São os intervalos de Sétima menor e de segunda maior. Usamos esses intervalos de forma tão constante em músicas tonais, que nosso ouvido já se familiarizou com a sua sonoridade.

Dissonâncias Neutras

Os intervalos de Quarta Aumentada e Quinta Diminuta são consideradas consonâncias neutras, isso porque, apesar de soarem de forma bem ácida ao ouvido, as distâncias de quarta aumentada e quinta diminuta são as notas bases de qualquer acorde de tensão.

Dissonâncias Fortes

Os dois intervalos que geram dissonâncias fortes são os de segunda menor e sétima maior.

Função das Consonâncias e Dissonâncias na Música Tonal

Dito tudo isso, é importante apresentar os usos de intervalos dentro no nosso sistema musical. Harmonicamente falando, a música tonal lida basicamente com as percepções sonoras de tensão e relaxamento. Em última análise, essas sensações geradas por cada tipo de acorde desperta nosso interesse em continuar ouvindo sequências de notas a fim de se encontrar soluções para cada tipo de tensão. Para entrar mais profundamente nesse assunto, é necessário falar de harmonia funcional.

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